20 de janeiro de 2013

Palavras do Narrador: Parte 2 - Construção dos PdM


Olá pessoal.

Neste post falarei um pouco sobre a construção dos personagens não jogadores ou personagens do mestre, de nossa crônica.


A primeira ideia que me veio a cabeça foi: quem poderia ser mago no Rio? Eu só conhecia o Rio de Janeiro como é mostrado na TV e em alguns filmes. Não fazia ideia de como a cidade era grande, dos parques que ela possui, dos centros, das praias e tudo o mais. Logo, minha primeira imagem mental do Rio de Janeiro era que se haviam magos, esses teriam a cara do Rio. E aqui faço uma ressalva: não entendo a fixação que algumas pessoas tem em jogar em cidades americanas ou europeias, sendo que temos uma cultura tão vasta e diversificada aqui no Brasil que poderia ser utilizada tão bem ou até melhor que as estrangeiras. Joguei uma campanha uma vez em Olinda e nem sabia o quanto a cidade era bonita. Então fica a dica pra você que quer começar uma crônica: porque não no Brasil?

Eu sou do MT, viajei um pouco pelo Brasil mas só no eixo MT-RS. Nem sei o que é praia e pelo que conhecia a praia é um referencial carioca. Como eu poderia construir personagens que tivesse a cara do carioca? Bom, eu tenho certeza que ainda não alcancei o meu objetivo nisso e, no andar da carruagem, nem tenho mais tempo para me dedicar no desenvolvimento deles como gostaria. Embora não tenha vivido ou conhecido a cidade e as pessoas, um dos jogadores conhecia até bem, então foi uma boa fonte informal. Logo, pensei que, tal qual São Paulo tem diversas etnias, o Rio também teria.

Além disso comecei a estudar um pouco das religiões no Rio e percebi que ele reflete um pouco o que está acontecendo no Brasil como um todo: a diminuição de pessoas que se dizem Católicas e o aumento das Evangélicas. Estudando as representações arquetípicas das Sendas em MoD eu não consegui enxergar, numa primeira observação, essas duas religiões fora da Senda Obrimoi. Também não consegui fazer um paralelo da essência do Cristianismo, representado no Catolicismo e no Evangelismo, com  as Sendas. Por isso não fiz uma Cabala formada por magos com essa representação.


Masssss, as religiões Afrodecententes nos dão um ótimo material de estudo para fazer um paralelo com a Senda Thyrsus e também, embora menos forte, com a Senda Moros. Achei a ideia muito boa. Bem brasileira. Foi pensando nesse viés que construí a identidade da Cabala Babalorixás. Uma cabala constituída essencialmente de magos Thyrsi. Embora a Senda Thyrsus nos dê possibilidade de relacionar a espiritualidade de algumas religiões eu, particularmente, achei que encaixou como uma luva. Babalorixá significa líder espiritual e sacerdote em algumas religiões afro. Tal qual o nome sugere, os seus integrantes representam a liderança espirital destas religiões no Rio de Janeiro.


E a boemia? Ahhh, fala sério. Não dá pra pensar em Rio de Janeiro sem pensar em boemia, carioca da gema, surfista e coisas do tipo. Pode não ser a vida exatamente como ela é, porém é a representação que o Rio tem pra mim. Logo, pensei que essa identidade mais festeira, boemia, seria a característica principal da Cabala Lobo Errante. Pensei em Lobo por ser um animal que vive em bando e Errante pelo ritmo de vida das pessoas. Os seus integrantes, de certa forma, apresentariam essas características, porém, seria bastante grande, com muita gente, abarcando o gosto pela arte, teatro, música e outras culturas presentes no Rio.

Mas não fiquei contente, achei que faltava alguma coisa a mais nos magos que tinha feito. Pensei que faltava a boemia mais burguesa, pois os magos da Lobo não tinham muitas posses. Logo, pra contemplar esse outro aspecto criei a Cabala Os Cartolas. A ideia seria uma cabala que mudou um tanto durante tantos anos. Possuíam aquele ritmo de vida noturno, boêmio como as da Lobo, porém foram enriquecendo e mudando, pouco a pouco o seu comportamento, se distanciando da "classe baixa/media". Quando pensei no nome Cartolas, pensei em pessoas que nutrissem um gosto exagerado pela cultura e militância política na época da ditadura. Ainda um tanto inocentes com relação ao papel de Mago no Mundo (das trevas) escolheram este nome. Achei um nome bacana e pronto. ^^


E onde ficariam os descendentes dos barões, a aristocracia do Rio? É lógico que os burgueses que Despertaram não se misturariam de bom grado com magos que antes eram Pai de Santos ou Pagodeiros, não é verdade? Pelo menos é assim que eu enxerguei as relações entre os magos no sistema. Caso você saiba que não é assim, peço, por favor, que sugira leituras nos comentários. ^^


Esses aristocratas, burgueses, pessoas de grande "cultura" e riqueza, são os integrantes principais da Cabala Crivo de Ametista. Temos nessa cabala escritores, grandes empresário e pessoas com famílias tradicionais. Se você, como eu, já pensou "Esses fdp devem ser todos da Escada de Prata" você pensou certo. hahaha ... Claro que uma coisa não tem, necessariamente, a ver com outra, masss, a ideia da burguesia carioca ser da Escada, dá muita história, muito pano pra manga. Pensei em Crivo por ser algo relacionado à purificação, escolha dos melhores e Ametista pela misticidade que envolve essa pedra. Dizem que a Ametista protege contra feitiçaria e que simboliza o nascimento. Entendeu a jogada?


E a Jurojin? Bem, os magos do Rio não são os primeiros a despertarem na região. Existe toda uma história deixada para trás desde a época das Capitanias. Assim, pensei que durante a guerra contra os Profetas, boa parte desses magos morreram, sobraram apenas 6 magos mais antigos, de 2 cabalas. A Jurojin e a Laço de Ébano (sim, peguei do livro básico). Eu queria ter uma Cabala que fosse estrangeira, mas naturalizada. Os membros dessa cabala são todos filhos ou netos de imigrantes japoneses, tendo essa dualidade nipônica/carioca no seu comportamento. As circunstâncias do Despertar dos integrantes da Jurojin foram bastante diferentes, mas a descedência e tradições foram o suficiente para mantê-los unidos e formado uma cabala. Jurojin é um dos sete deuses do Shichi Fukujin, chamados deuses da sorte. Tokugawa foi quem escolheu esse nome, pois Jurojin é o deus da longevidade e sabedoria. Nada mais justo em contraste com a cabala.


Os outros 3 magos, desses mais velhos, seriam Anciões. Os jogadores não sabiam que esses magos faziam parte de uma mesma cabala no início da crônica. Um deles, o Sabázio, é o avô do Zathara. A Arian é a avó de criação do Matias e a Lua é a irmã da Arian. Mais informações eu irei disponibilizando nos posts sobre perfil de cada mago.

Incrível foi que, mesmo sem conversarem vários jogadores colocaram que seus avós tivessem alguma relação com seu despertar. Foi uma baita coincidência. É deixado bem claro que não há essa de Despertar por "nepotismo" hehe, ou seja, não há nenhuma garantia de que sua prole também despertará. O livro mesmo diz que vários magos acabaram perdendo a sanidade com isso. Então foi um tanto trabalhoso encaixar esses "parentes" dos personagens na campanha. Mas de certa forma até bom. Eles funcionavam bem como "minha desculpa para ajudá-los em certas situações que eles não conseguiam sozinhos". As vezes nós, narradores, planejamos algo muito elaborado que para nós está bastante claro, mas para os jogadores não. Então uma ajudinha é sempre bem vinda, ainda mais no começo quando nenhum de nós domina o sistema. Foi com essa visão que criei a Laço de Ébano, embora além dos 3 magos: Sabázio, Arian e Lua, existiram outros que os jogadores estão descobrindo agora.

E por último vem a Acharya: em sânscrito significa um guru ou especialista. Essa foi a vontade dos 3 integrantes desta Cabala. Jovens, recém despertos, só um pouco mais velhos que os jogadores, eles estavam em uma missão para o Consilium. Por isso os jogadores não tiveram muito contato com eles. Pensei que faltava uma cabala que fosse intermediária em "poder" e conhecimento e para tanto criei a Acharya, inclusive para contemplar o background de um dos jogadores.

E é isso aí. Resumidamente foi dessa maneira que pensei na criação das cabalas e dos magos do Consilium e fora deles no Rio de Janeiro. Espero que vocês tenham gostado desses posts. Não esqueça de deixar um comentário com seu feedback.

No próximo post falarei um pouco da criação dos Antagonistas dessa campanha. Até lá.


JL
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