9 de janeiro de 2013

2º Sessão - O Espírito do Oratório


 Com sua agilidade sobrenatural os dois amaldiçoados correram em direção a Sebastian e Zathara e desferiram um golpe rápido em suas costelas. O que eles não sabiam é que uma proteção mágica cobria os dois magos e como tal em efeitos especiais, seus punhos foram mudando de direção como se tivessem sido empurrados por uma força invisível. Pelo fato de serem crias novas, esses vampiros ainda não estavam acostumados, não sabiam muita coisa do mundo sobrenatural , pelo que mesmo por instantes ficaram em choque por tal acontecimento. Esses instantes foram o suficiente para que os dois Magos pudessem reagir e responder-lhes a altura. Ao mesmo tempo, os outros quatro Magos mesmo longe se utilizaram de magia, aproveitando que a rua naquele momento estava sem movimento e conseguiram causar severas injúrias nas duas crias vampirescas forçando-os a fugir.

- Ha ha, o que são mortos-vivos para quem controla a morte? - Sebastian disse rindo da situação.
- Em seis contra dois até eu conto vantagem. - Zathara desdenhou do colega Moros.

Não era de se estranhar que Moros e Thyrsus não se davam muito bem. Caminhos diametralmente opostos. De toda forma, seja pelo susto ou por algo a mais, como sempre dizem os Acanthi, os dois fugitivos não foram para o hotel abandonado, mas seguiram em linha reta para o prédio ao lado. Pularam o muro e correram para dentro. Rapidamente, Odair perscrutou e não encontrou nenhuma outra consciência nas redondezas do prédio abandonado, utilizando-se do Arcano Mente. Mas Zathara sentiu uma perturbação no local e não conseguiu perscrutar o Mundo das Sombras para além do Dromo com o Arcano Espírito. Eremes sentiu por um momento algo mágico, porém superno, com seu Arcano Primórdio. John e Matias da mesma maneira, por um instante, enxergaram as linhas do tempo se comportando diferente naquela região. Mas tudo isso ocorreu por instantes. Por mais que permanecessem no local não conseguiram observar nada além do normal, exceto Zathara que, sem motivo aparente, não conseguia perscrutar além do Dromo naquela região.



Mas o que de pior poderia acontecer? Afinal, são Magos! Após algum tempo, no momento em que não havia ninguém nos arredores no perímetro de 2 quadras, os seis entraram no prédio antigo. Tamanha surpresa ao encontrar os dois vampiros estripados no chão, foi superada pelo medo do imenso Ser feito de efemeridade, porém materializado que se apresentava à frente da jovem Cabala. Uma criatura de quase 4 metros de altura que parecia sair dos livros de Tolkien e que ainda tinha sangue das duas infelizes criaturas que toparam em seu caminho em suas mãos. Uma voz grave, carregada de autoridade começou a falar:

- Ahh, vejo que vocês não são invasores comuns. O destino de vocês será, de certo, diferente destes pobres amaldiçoados.

Zathara tentou identificar qual seria a magnitude deste ser, porém sem muito sucesso. Mas estava claro que seu poder excedia os de um barão, com certeza. Odair percebeu uma mente poderosíssima, enquanto John e Matias sentiram que a sorte estava a favor deles, de certa forma.
O ser feito de efemeridade continuou:

- ... seis. Então ele estava certo. Acredito que então, não seja coincidência. Bom, de qualquer forma, não posso falar-vos agora, tenho meus próprios problemas agora para resolver. Se lhes for útil, esse era o oratório de meu mestre, Hadrian, e o mesmo deixou-lhes uma carta, me dizendo que, caso o destino trouxesse cinco ou seis magos, eu deveria entregá-la.

Observando melhor agora, a sala onde estavam, no andar debaixo, não era tão pequena quanto parecia. Além do mais existiam algumas estantes cheia de livros e outros objetos ritualísticos dentro daquela sala, o que, certamente atestavam a veracidade de que aquilo ali era um oratório. Eremes percebendo melhor o ambiente, viu que ali havia um fluxo razoável de mana. - Um Sacrário! - pensou.

- Me chamo Olgem. Creio que um de vocês possa me chamar, caso haja algum problema. Sou o espírito deste Oratório e cabe a mim a responsabilidade de protegê-lo dos dois lados. Sou responsável por uma pequena parte do meu mundo, logo possuo certas atribuições que não me permitem continuar esta conversa agora. De qualquer forma tomem - entregando a carta ao mago mais próximo -, conforme disse, vocês tem a permissão para ficarem aqui, caso desejem.

E assim Olgen desmaterializou-se voltando ao Mundo das Sombras. Dali Zathara podia ver. A extensão no Mundo das Sombras deste local era muito maior, quase como dois Maracanãs. Existiam milhares de árvores formando uma extensa parede circular em volta daquele lugar, bem com muitos espíritos que ali o protegiam.

- Vocês não tão acreditando nisso não é? - disse Sebastian. Um espírito se materializa na nossa frente, diz que nos esperava e ainda nos entrega uma carta. Oratório, haha, tá bom. Como se um MAGO fosse deixar um oratório desses pra gente assim, de graça.

- Nós, discípulos do Tempo, podemos ver o futuro com certa limitação. O que um MESTRE do Tempo faz, está além do que pensamos. Logo, creio que tudo isso possa ser possível, de algum modo.

- O que o Matias diz é verdade - continuou John -. Embora eu também esteja preocupado, podemos pelo menos ver o que está escrito na tal carta. Vamos vê-la.



A carta, não estava completa. Parte do que havia na carta estava queimada por um incêndio que acometera naquele lugar há alguns anos. Vários buracos tornavam impossível ler o que estava escrito. Porém ...

- Me dá aqui que eu posso resolver isso- disse Sebastian olhando de soslaio Zathara como se estivesse-o desafiando.


Sebastian pegou a carta e aos poucos ela foi se restaurando tal qual a que estava escrito nela. Foi tudo tão rápido que não tinha certeza se a escrita apareceu depois ou se foi restaurada com a carta.

- Mesmo que a carta disse cinco, o Olgem disse que seu mestre falou em cinco ou seis. Então o velho acertou. Não?

- Não tenho certeza - disse Eremes, respondendo à pergunta feita por Odair -. Quando vocês escrevem uma carta para alguém, o que escrevemos no começo? O nome da pessoa à quem estamos escrevendo. O nosso nome a gente escreve no final da carta. ESTA está ao contrário. Aquele espírito disse que seu mestre era Hadrian, e o nome dele está no começo da carta, como se ela fosse dirigida à ele. Quem é que escreve uma carta colocando o seu nome no começo?

- Eu não sei, mas se ganhamos um sacrário e um oratório particular, porque não aproveitar por enquanto? Não sei quanto à vocês, mas é a primeira vez que me deparo com um sacrário E um oratório juntos desde que saí daquele maldito lugar em que aprendia magia.

Zathara estava certo. Todos ali estavam até alguns dias atrás confinados em cavernas ou um buraco qualquer aprendendo o suficiente de magia para serem ao menos discípulo de um Arcano. Foi só então que ganharam a "liberdade" e já de cara tinham essas "tarefas" para cumprir para o Consilium, como se fossem capachos. Por mais surreal e perigoso que aquilo parecia, era uma ótima oportunidade para a então recém formada cabala ter algum lugar para estudar e dialogar o seu futuro.

Todos então concordaram que a ideia, por mais absurda que fosse, era boa. Voltando a atenção para a carta, nada daquilo fazia muito sentido. Primeiro: o tal Hadrian dizia que era antigo, mas ninguém dali jamais tinha escutado o seu nome. Nem mesmo Zathara, que era neto do antigo hierarca Sabázio, tinha escutado o avô dizer alguma coisa sobre esse nome. Segundo: ele pedia para não contar sobre o sacrário para nenhum mago da cidade, mas eles já sabem. Então por que pedir pra não contar? Outra coisa era esse final: "Nós confiamos em vocês". Nós quem? A carta não era de um pessoa só? Acharam por bem ver o local primeiro antes de continuar a pensar nessa maldita carta.

Fora dali, Odair percebeu que o espaço naquela sala era maior do que parecia ser e isso era um feitiço. Porém o mais intrigante é que ele não conseguia perscrutar com clareza esses feitiços na sala, como se tivessem sido feitos por um perito em ocultação. Nem mesmo Eremes, com Primórdio conseguia sentir qualquer ressonância de magia no local, embora tenha visto que o sacrário era bom: emitia uma ressonância de temperança, logo, perfeito para reabastecer. A biblioteca era razoável, com vários livros codificados e alguns pergaminhos estranhos. Zathara andou algumas quadras para poder perscrutar o dromo e realmente existia uma floresta imensa cercando aquele local. Não existia um ponto exato em nosso mundo que ele pudesse sentir e principalmente VER onde aquela floresta começava. Ou ele estava fora ou não conseguia enxergar mais nada, como se aquele lugar fosse um funil no Mundo das Sombras, com a boca larga do lado de lá. - Será que os outros Thyrsis sabiam daquilo? Deveriam saber, lógico - Zathara pensou.

Enfim perceberam que estava por raiar o dia. E tinham 2 corpos com eles.

- Eu posso forjar a morte deles. - sugeriu Sebastian aos demais.

- Não creio que seja uma boa ideia. Qualquer Guardião do Véu saberia reconhecer a farsa - retrucou John.

- Você tem alguma ideia melhor? Porque se eles quisessem poderiam ler nossas mentes e saber de tudo o que aconteceu aqui.

O que Odair falou era certo. E isso era o que incomodava à todos. Qualquer Mastigoi do Consilium poderia ver na mente deles o que aconteceu, então não adiantaria manter segredo.

- Meu mestre disse que é proibido para um membro do Consilium enfeitiçar outro membro ou usar qualquer tipo de magia no mesmo sem permissão do Hierarca. Eu sei que não somos do Consilium, ainda, mas acredito que isso valha para nós também, - ponderou Eremes.

Todos então concordaram que por este sacrário e oratório valeria a pena correr o risco. Caso fossem descobertos, entregariam tudo, sem pensar duas vezes. Sebastian, então, forjou outro tipo de morte para os dois vampiros. Eremes não conseguiu encontrar vestígios de magia nos corpos e ficou com uma sensação dúbia por isso. Por um lado era bom que não tivesse percebido nada, pois havia uma chance dos outros também não perceber, por menor que seja. Por outro lado, o que o Sebastian fez para suprimir a ressonância de sua magia? Pois se o mesmo podia fazer isso ali, poderia fazer em outras oportunidades também e ele não perceberia. Isso seria preocupante e depois disso tudo haveria de perguntar isso ao mesmo.

Levaram os corpos até Ori e contaram que quando os dois atacaram Sebastian e Zathara, acabaram sendo alvejados e mortos pelas balas dos dois, de John  e Eremes. Já estavam fracos quando chegaram lá o que possibilitou a morte. Mesmo desconfiado, Ori pegou os corpos e levou para uma Combi, sempre aparecia com um carro diferente, e disse:

- Dois vampiros mortos na bala, hé hé. Eu não tenho certeza disso, mas também é possível se estavam tão fracos. De qualquer forma os Guardiões vão saber dizer se foi isso mesmo. Até aqui vocês foram bem. Quem diria heim? Começaram bem. Como o tempo urge e a Sapucaí é grande o lance é que agora vocês vão ver o que está acontecendo no Morro do Caricó. Há um boato dizendo que os mortos lá andam de novo, e não estou falando de vampiros. Boato por boato, é bom vocês irem lá dar uma olhada. Dizem que uma gangue está tomando aquele morro e não se for algo sobrenatural não pode sair na mídia, me entenderam? Por mim tudo isso era público, mas quem passou isso foi um Guardião. Ele está verificando algo com os outros três da Acharya e os demais estão ocupados.

Mais um servicinho sujo que o Consilium manda fazer, pensaram.

JL
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